2013 será um ano bastante importante pra São Paulo: Fernando Hadad, eleito em 2012, é o 46° prefeito da história da capital paulista, novos vereadores, a maioria em primeiro mandato discutirão os assuntos relevantes - ou irrelevantes, como sempre - vence o Plano Diretor atual da cidade, que terá de ser refeito, se encerra também o prazo da Agenda 2012, conjunto de metas lançadas no primeiro mandato do prefeito Gilberto Kassab e que consiste em diversos contratos assinados que deverão ser renovados ou cancelados pelo próximo prefeito.
E essa semana vi uma iniciativa legal do Estadão de criar o site Que SP você quer?, onde paulistanos de todos os bairros podem dar sugestões do que pode ser melhorado na cidade. Mas, além de debater os problemas da cidade - que não são poucos, falta um debate bastante importante para SP: que tipo de paulistanos queremos ser para nossa cidade?
Ando muito pela cidade, tanto de dia como à noite, e percebo que um dos problemas de São Paulo não está na educação, transporte, moradia, saúde e outros clichês que todo mundo adora repetir sempre. Um dos grandes problemas de São Paulo é quem mora aqui. Somos um povo sem qualquer compromisso com a cidade, uma cidade de pessoas apáticas com tudo que esteja relacionado ao bem público paulistano. Para muita gente o que acontece em SP não é problema das pessoas. Falta apego à cidade, independente de ser paulistano da "gema" ou não. Essa falta de apego, de compromisso, gera pessoas desinteressadas pelo que a cidade produz e pelo que acontece aqui. Damos valor às praias cariocas, às belezas nordestinas, às lindas mulheres gaúchas, à Amazônia mas não damos o menor valor para o que acontece aqui.
Essa falta de compromisso com a cidade acaba por criar na mentalidade do paulistano uma ideia errada de que os problemas da cidade não são "problemas nossos". Se a cidade está suja a culpa é da prefeitura, mas ninguém pensou que alguém jogou aquele lixo ali. Se temos boas opções de cultura e lazer reclamamos porque queremos praia. Se o dinheiro da prefeitura some nas mãos de partidos já habituados a consumir o dinheiro público ninguém presta atenção. Somos uma cidade formada por apáticos, gente que não tem qualquer vínculo com o lugar onde moram.
Prova disso? Uma pesquisa feita no ano passado mostrou que mais da metade das pessoas que moram em SP iriam embora, se tivessem oportunidade. Ou seja, mais da metade dos paulistanos vivem aqui, mas não moram, não "moram" no sentido de ter apreço pelo lugar em que se vive e querer estar sempre aqui. SP é uma cidade onde as pessoas trabalham - e muito, criam família amigos, mas não tem qualquer sentimento pela cidade. Não criam vínculos com a cidade onde moram. Pelo contrário, querem que SP "se dane", como já ouvi várias vezes nos ônibus. Os rios de SP estão poluídos? Se dane a cidade. Temos pouco verde e nossas ruas estão totalmente cobertas por asfalto, o que acaba por impermeabilizar totalmente o solo impedindo que a água da chuva escoe? Se dane a cidade. Os vereadores não votam um projeto interessante para a cidade, e o Plano Diretor está há anos se arrastando? Que se dane a cidade. Essa é a mentalidade dos paulistanos. Da maioria, pelo menos.
Outra prova da falta de apego dos paulistanos com a cidade? Procure ver quantos dos que moram aqui conhecem a história da cidade. Porque São Paulo tem esse nome? Quem fundou a cidade? Passamos várias vezes pelo Páteo do Colégio (sim, é "Páteo", mesmo), mas poucos sabem que ali SP começou de verdade. Não temos o menor interesse em conhecer a história de SP em relação ao Brasil, nossa relação com os outros estados. Não nos interessamos em conhecer a história dos bairros de SP. Muitos não sabem da importância do Ipiranga, da Avenida Paulista, de Santo Amaro (aliás, poucos sabem que Santo Amaro inclusive já foi uma cidade). Poucos sabem da Revolução de 32 - até hoje muitos paulistanos ainda não sabem qual o motivo do feriado de 9 de Julho. Os paulistanos sequer sabem a diferença entre paulista e paulistano. Muitos não conhecem o
Hino dos Bandeirantes, o hino oficial do Estado de São Paulo, - bom, muitos nem sabiam que SP tinha um hino próprio; tá certo que com uma melodia muito bizarra, mas é o nosso Hino.
Falta em SP um certo "bairrismo", no melhor sentido possível, como se vê entre os gaúchos, por exemplo. Quer povo para ter mais apego ao lugar onde moram do que os gaúchos? E não me venha dizer "mas é claro, pois lá é bem melhor que SP", pois não é. Porto Alegre, por exemplo, tem tantos ou mais problemas urbanos que SP, e isso não diminui o amor dos portoalegrenses pela cidade. Falta o bairrismo que nos faz gostar da cidade onde vivemos e trabalhar para que ela seja um lugar ainda melhor. O bairrismo que nos faz orgulhar do nome, da bandeira da nossa cidade. O bairrismo que, mesmo para quem não nasceu aqui, faz SP ser a cidade onde a vida pessoal e profissional se concretizou. Falta amor pela cidade.
Sem isso não haverá saúde, emprego, transporte, habitação e blábláblá que torne nossa vida melhor aqui. Sempre irá faltar algo. O que falta é gostar de SP.