Sim, é mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que encontrar uma pessoa que ainda não tenha assistido a pelo menos um episódio de Friends. O longevo seriado americano criado por David Crane e Marta Kauffmann, que foi gravado entre 1994 e 2004, ainda hoje continua sendo o enlatado mais eficiente na função de prender a atenção de pessoas ao redor do mundo (o ocidental, pelo menos). Friends conta a história de um grupo de amigos – Rachel, Monica, Phoebe, Joey, Chandler e Ross - que passam, sempre juntos, por situações complicadas do cotidiano. Novo emprego, novo amor, novos sonhos, expectativas, dificuldades de relação coma família, tudo é vivido em conjunto pelos amigos, que trocam suas experiências e se ajudam – ou não – nas mais variadas situações.
Talvez seja esse o segredo de Friends: mostrar a realidade de qualquer jovem, seja americano, brasileiro, inglês. Guardadas as devidas proporções, quem nunca passou pelas situações mostradas na cena? Todos nós temos nosso momento de crise, e a série mostra exatamente como cada um de nós reagiria diante de situações adversas. É difícil não se identificar com algumas das situações muito bem retratadas na série. Quem nunca se sentiu meio bobo diante de um amor, como a Rachel? Ou quem nunca foi um “forever alone” como Joey? Ou ainda quem nunca tentou agradar uma mulher e viu tudo dar errado como o “fofo” Ross?
O grande problema é o ambiente que a série cria, que nem sempre será uma realidade para todos. Em Friends a vida é baseada no convívio entre bons amigos, que sempre estão disponíveis um para o outro, seja para se ajudar, seja apenas para tomar um café no Central Perk. A vida em Friends é uma vida de pessoas bem relacionadas, com amizades bem construídas. Cada um ali é “amigo do peito” do outro, o “amigo certo das horas incertas”, para quem se confidencia os segredos mais profundos, para quem se conta as dúvidas mais inquietantes. Isso é muito bom quando você tem um amigo do tipo. Mas nem sempre esse amigo existe.
Uma das grandes realidades de qualquer pessoa é o famoso “período de solidão” que cada um de nós enfrentamos, quando nos vemos diante de situações complicadas e tendo que tomar decisões “sozinhos”. Sim, tem momentos na sua vida em que é você e pronto. Você não vai ter uma Jennifer Anniston pra chamar de sua e deitar no ombro enquanto desabafa sobre suas dúvidas (bem que eu queria... rs). Maturidade, na verdade, é isso: saber tomar decisões e encaminhar as coisas mesmo quando você não tiver a quem consultar. Se fosse para consultar alguém sempre você não precisaria sair da casa dos seus pais, correto?
Friends acaba por nos passar a ideia de que a vida só é perfeita quando você tem um grupo de amigos com quem contar o tempo inteiro. Por mais bem relacionado que você seja, por mais amigos e mais contatos no WhatsApp que tenha, você vai passar por situações em que não vai ter ninguém para chamar. Essa ideia de um mundo perfeito onde todos são bem relacionados o tempo inteiro, onde você sempre vai ter uma "best" ou um "brother" é uma ilusão que só existe em seriados e novelas teen, e trazer essa ideia para a vida real pode ser perigoso, pois pode resultar em frustração e decepção.
Enfim, a série tem seu valor, tanto que durou dez anos sempre batendo recordes de audiência e com atores recebendo valores na casa do US$ 1 milhão por episódio. Mas deve ser vista como um bom entretenimento. Só isso.
A frase parece boba e sem qualquer sentido, ainda mais quando lembramos que foi dita por uma personagem de um programa que não tem a pretensão de fazer nada além de apenas divertir, mas quando pensamos que foi escrita por um filósofo que usou o humor para mostrar ao mundo seu pensamento, vemos que faz, sim, muito sentido.
Até porque, se pararmos pra pensar, existe diferença entre morrer e perder a vida. Morrer é encerrar um ciclo de existência, que alguns dizem que se encerra por completo, outros dizem que continua em outra dimensão, seja no ceu ou onde quer que seja. O que todos concordamos é que a morte põe fim a uma etapa da existência, independente do que se tenha feito durante o tempo de vida. Morrer é interromper carreira, separar família, deixar vago algum cargo, encerrar projeto. Morrer é o "fim". Ao morrer, tudo que esteja relacionado ao falecido se encerra. Nada mais a se acrescentar.
Perder a vida é algo mais profundo. Podemos sim perder a vida sem morrer. Alguns existem, mas perderam a vida. Perder a vida é viver à margem da vida. É existir, mas não usufruir do que a vida tem para nos oferecer de bom. É sobreviver, apenas. Perdemos a vida quando deixamos passar oportunidades importantes em nome da preguiça ou do medo do novo. Perdemos a vida quando não aproveitamos as amizades, os bons momentos. Perdemos a vida quando, em nome de projetos passageiros, abrimos mão da convivência com a família, com as pessoas que amamos. Perdemos a vida quando deixamos de aproveitá-la, quando deixamos de praticar o "carpe diem".
Perder a vida é deixar de acreditar, é abrir mão da esperança de uma existência melhor, de um mundo mais leve e menos tumultuado. Perder a vida é achar que tudo já está perdido, que nada tem jeito e que as coisas "são assim mesmo". Perder a vida é fazer de hino as palavras da música da Pitty, que diz: "a minha alma nem me lembro mais em que esquina se perdeu". Jesus de Nazaré falou sobre perder a vida, mas com uma expressão parecida: "de que adianta ao homem ganhar o mundo e perder a alma?" Algumas pessoas vivem, outras apenas existem.
Roberto Goméz Bolaños existiu por um bom tempo - 86 anos - e mais do que existiu: viveu. Viveu para criar, para dar corpo à sua forma de ver o mundo. Viveu, aproveitou a vida e deu vida à sua vida, através de suas personagens, que são várias além do Chavo Del Ocho, cada uma com sua particularidade e característica. Claro, o mais conhecido é o Chavinho, o "burro à pão de ló", e por aí vai. Roberto conseguiu criar uma personagem que, como disse Clarice Lispector, viveu "apesar de". Apesar da pobreza, apesar da falta de uma família, apesar da falta de uma casa, o Chaves vive. É feliz, tem amigos que ama (quem nunca chorou com a carta que ele escreve ao Seu Madruga no dia de São Valentim?) e brinca mesmo sem brinquedos. Talvez o Chaves seja tão querido assim porque todos somos um pouco Chaves: lutamos para viver apesar de. Queremos mais que existir. Lutamos diariamente para não perder a vida.
Roberto, descanse em paz. Obrigado por nos ensinar a viver. E lembraremos sempre de uma de suas lições: podem me vencer uma vez, mas não irão me vencer duas. Ou três, ou duas mil, trezentos e cinquenta e sete.
Na terça-feira a noite assistimos Eduardo Campos, candidato do PSB à presidência da República, sendo entrevistado no Jornal Nacional pelos supertendenciosos apresentadores Willian Bonner e Patrícia Poeta. No final do mesmo dia, Campos deu entrevista à Globo News. Estava em plena campanha. Na quarta-feira pela manhã Eduardo Campos volta ao noticiário, mas não com boletins sobre sua agenda de campanha. Se discutia a melhor forma de encontrar seus restos mortais em meio à destruição causada pela queda do avião que o transportava de volta do Rio. Rio onde ele esteve na terça a noite, dando entrevista no Jornal Nacional e Globo News. Notou a proximidade dos acontecimentos? Em menos de 16 horas Eduardo Campos sai das páginas políticas para as páginas de tragédias que tanto tesão dão a apresentadores sádicos como Datena & derivados. Em menos de 16 horas Eduardo Campos deixou de ser o candidato à sucessão presidencial para virar restos mortais espalhados em Santos. Hã?!
Sim, a notícia da morte de Eduardo Campos, 49 anos, me chocou profundamente. Não necessariamente por ter ligação com ele, pois nunca me envolvi diretamente com sua história nem tinha planos de votar nele. Sim, ele é muito querido no Pernambuco - não foi difícil encontrar pessoas chorando sua morte pelas ruas de Recife - mas o que me chocou foi mais do que a morte de Eduardo Campos em si. A dor da perda deixo para a família e pessoas ligadas diretamente a ele. A perda política deixo para os demais candidatos, para seu partido e especialistas no assunto, que terão muito a comentar e analisar pelos próximos dias - sem dúvida é uma perda enorme para o Brasil. O que me chocou mesmo foi a forma frágil com que ele deixou esse mundo. Um homem cheio de vida e de planos - e de filhos, pra não esquecer - de repente vira um monte de carne queimada numa tragédia. De repente.
As vezes nos esquecemos o quão frágil é a nossa existência nesse mundo. A alegoria bíblica da criação do homem a partir do pó da terra - claro que não acredito que o homem veio de Adão - tem o objetivo de mostrar exatamente isso: somos seres pensantes, inteligentes, que criam, planejam, executam, mas somos pó. Apenas pó. Pó que pode ser espalhado com uma brisa qualquer. Em um minuto podemos deixar essa vida, e tudo o que havíamos feito fica aí, à merce de outros que queiram ou não continuar. Uma outra frase bíblica diz que nossa existência é como a nuvem: você olha e está de um jeito, olha de novo e não está mais. Nossa existência é muito incerta. Não sabemos o que irá nos acontecer no próximo dia, na próxima hora. Você pode até não voar para evitar que uma tragédia dessas aconteça com você, mas você pode ser atingido por um ônibus desgovernado num ponto. Pode ser vítima de um assalto besta. Um piano pode cair na sua cabeça, e tudo pode se acabar. De repente.
Sim, isso angustia a qualquer um, e me angustiou o dia inteiro. Digamos que esse não é o melhor pensamento a se ter exatamente na semana do aniversário, mas me ajudou a lembrar de coisas que eu vinha me esquecendo: que posso ter toda uma vida pela frente, e posso não ter. O próprio avô de Eduardo Campos, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, morreu aos 89 anos. Viveu muita coisa. Mas o neto morreu com 40 anos de antecedência. Morreu, depois de dar uma entrevista no Jornal Nacional, na Globo News, voltar para o hotel, dormir, acordar e se arrumar para viajar para Santos e dar outra entrevista. Cara, isso é muito louco. Desculpe pela gíria, mas é a expressão que define o que estou sentindo no momento. Essa sensação de impotência diante do acaso, diante do imprevisto. Imprevisto, esse deus perverso que não escolhe dia nem hora para atacar, que vem sobre qualquer um, independente da idade ou do estilo de vida.
Parece meio mórbido falar sobre morte, mas é a consciência que temos da morte que define como lidamos com nossa vida. Só levamos a vida a sério quando temos a consciência de que ela não irá durar para sempre. Pra usar outra alegoria bíblica, não sabemos quando irão bater a nossa porta e perguntar: "louco, o que você tem preparado?".
Agora só resta refletir. E viver, enquanto da tempo.
Não assisto UFC. Aliás, até assisto vez por outra, mas não acompanho. Não tenho interesse em ver homens se agarrando e se encoxando num octógono, por isso não sei nenhuma denominação, escala de competições, quem é o melhor, o pior no UFC. Aliás, há poucos dias vim saber o significado da sigla UFC (Ultimate Fighting Championship). Enfim, é um esporte que não me chama nem um pouco a atenção. E chamava a atenção de pouquissima gente até a pouco tempo atrás, antes de a Globo ter o lampejo de comprar os direitos da exibição das lutas. Agora UFC virou esporte popular no Brasil, quase como futebol. E é essa popularização que me leva a saber um pouco mais do Anderson Silva, tido como heroi nacional porque dá mais porradas que os adversários quase sempre. Só que numa luta contra o americano Chris Weidman ele perdeu. Viu o cinturão ir para o adversário. Não aceitou a derrota e quis uma revanche. Não só perdeu novamente o cinturão como quase perde a perna.
É, Anderson Silva é o tipo que não sabe perder. Estava numa maré alta, com uma popularidade quase chegando as estrelas, ganhando muito dinheiro e pensou que não podia perder nada. Perdeu. Tá, e daí? Perdeu hoje, ganha na próxima. Uma das grandes lições dessa vida, que aprendemos a duras penas, é que não se pode ganhar todas. Quem tenta ganhar tudo corre o risco de quebrar a cara - ou a perna.
Saber perder é essencial para levar a vida de uma forma mais leve. Essa obrigação que a sociedade e a igreja nos impõe de vencer sempre, de estar sempre por cima, de cantar vitória o tempo todo e sempre se apresentar como o super heroi que nunca perde é, no mínimo, mentirosa, pra não dizer adoecedora. Nos acostumamos a ganhar o tempo todo, porém a vida é feita de tempos de vacas magras e vacas gordas. Todos temos fases em que nada dá certo, em que, como diz Carlos Drummond de Andrade, pra todo lado que você anda tem uma pedra no meio do caminho. Só que não aceitamos esses bad moments. Queremos sempre ganhar, e se algo dá errado o que acontece? Culpamos os pais, a formação que recebemos, a qualidade ruim do ensino de quando você se formou no ensino médio há vários anos atrás, o trânsito, o PT, Deus. Somos especialistas em encontrar culpados para nossos momentos de derrota, mas nunca paramos para pensar que algumas coisas dão errado porque a vida é assim.
Já que estamos em época de reflexão de fim de ano, taí uma coisa boa para se refletir no próximo ano: apender a aceitar as derrotas que você sofrerá em 2014. Só espero que isso não seja uma profecia para nossa Seleção. Sim, comemore tudo que conquistar, e aprenda com o que perder.
Que todos nós possamos aprender a lição que o spider Anderson Silva nos ensinou nessa madrugada de sábado para domingo: aceitar derrotas conserva as pernas... rs
Nesse começo de mês tivemos o tal "dia das crianças". E a empresa em que trabalho tem seu dia das crianças próprio, um dia em que os funcionários levam para o trabalho os filhos de até 12 anos, que passam o dia inteiro envolvidos em atividades voltadas só para elas. E uma das coisas que não pude deixar de notar é como crianças brincam com qualquer outra criança. Vi crianças que haviam acabado de se conhecer correndo juntas pelos corredores da empresa. O que elas sabiam do outro? Provavelmente o nome, apenas, ou nem isso. Crianças totalmente diferentes uma das outras correndo juntas. Negras e loiras, altas e baixinhas, magras e gordinhas, todas juntas. Quando vi aquilo pensei: em que momento da vida passamos a fazer distinção de pessoas?
O ser humano é preconceituoso. Sempre nos vemos tentados a tratar com descaso quem é diferente. O negro é o "preto", a loira é a "aguada", o gordo é o "baleia", o gay é o "bicha", a lésbica é a "sapatão", o transsexual é o "traveco", o deficiente físico é o "aleijado", o deficiente mental é o "doido varrido", o rockeiro é o "drogado", o sertanejo é o "corno" e uma série de adjetivo que, se fossem todos escritos, dariam uma lista se não interminável pelo menos muito grande. Mas curiosamente esse preconceito, que carregamos as vezes sem perceber, não nasce conosco, ou seja, não é uma característica humana. Quer a prova? Essas duas crianças que vi brincando. E não só elas duas. Qualquer criança que você encontrar com certeza não carrega nenhum desses preconceitos. Crianças não perdem tempo perguntando a religião da outra, qual o estilo musical ela gosta ou se é filha de pais gays. Coloque duas crianças que nunca se viram antes dentro de um mesmo quarto e em menos de um minuto elas estarão correndo em alguma brincadeira, assim como aconteceu na empresa em que trabalho. Sabe por que? Para elas a companhia do outro é mais importante do que a bagagem que ela carrega. A criança não está preocupada em saber se o outro crê em Deus Pai Todo Poderoso. Ela quer apenas brincar, e brincar é muito mais importante que qualquer outra coisa. Criança não pede tempo com bobagens como o time de futebol da outra. Criança quer alguém para brincar. Encontrou, ela brinca. Só isso.
Sendo assim repito a pergunta: em que fase da vida aprendemos a ser preconceituosos?
Acho Jesus Cristo um cara fascinante pela forma simples como ele via a vida. E em um de seus ensinamentos ele falou exatamente sobre ser como criança. Narra a Bíblia que os apóstolos chegaram a ele para perguntar quem seria o primeiro a entrar no ceu - olha a pergunta! Jesus então colocou uma criança entre eles e disse que "quem for como uma criança entrará no ceu antes de todos os outros". E o que ele quis dizer com "ser como criança"? É ver a vida com simplicidade. É entender que se preocupar com o estilo de vida que o outro leva é perca de tempo. De que me interessa saber se a fulana leva homens ou mulheres para a cama? O que vai mudar minha vida se o outro gosta de um estilo musical diferente do meu? Precisamos aprender a viver com as diferenças. E não falo em ser "tolerante", pois pra mim a tolerância é o disfarce usado pela arrogância para parecer algo bom. O tolerante vê o mundo de cima e diz "eu aceito que você seja assim". Eu não tenho de aceitar nada. Cada um faz suas opções. Eu tenho de saber viver com a diferença. Quero desaprender o preconceito. Quero pessoas diferentes de mim. Quanto mais diferente, melhor, até porque não sou muito contente com o que sou, por que iria querer alguém igual a mim? Quero pessoas, não espelhos.
Hoje em dia é tão difícil encontrar pessoas legais nesse mundo que quando encontro uma nem perco meu tempo perguntando sobre as escolhas da vida dela. Quero mais é conviver, fazer amizades, estar rodeado de gente.